Moinhos, moleiros, menires e arte rupestre

Recebemos, no GEMA, um e-mail de Artur Carrapato, com informações muito interessantes a propósito de um dos menires mais enigmáticos do Alentejo Central: o menir da Moinhola, localizado no leito do Guadiana e o único, na região, cuja matéria-prima é o xisto.

Dizia a mensagem:

"sou de Reguengos e tive o prazer de conhecê-lo num jantar no Monte do Limpo que se seguiu aos Encontros de Monsaraz em Junho deste ano. Nesse jantar, eu e aminha namorada, a arquitecta paisagista Ana Ferreira, discutimos o nosso interesse pelas questões do megalitismo, assunto do qual eu sou um fervoroso entusiasta desde criança.Pois há coincidências extraordinárias, estava eu a consultar o seu site, nomeadamente as fotografias de menires de Reguengos, quando por mero acaso decidi espreitar o menir do Alandroal, que desconhecia, e qual não é o meu espanto quando verifico que no dito menir há uma inscrição "Já aqui estava quando cheguei a Miguens. J C Paulino" que é nada mais, nada menos, do que o meu bisavô materno, Joaquim Caeiro Paulino, que nunca cheguei a conhecer mas por quem tenho uma grande reverência, já que tal como eu era um ávido leitor de história e ciência, apesar de ser apenas moleiro e proprietário do Moinho de Miguens, que ficou na minha família até ter sido submerso. Era um personagem curiosíssimo, conhecido por levar na sua mula com que visitava os moinhos de que era rendeiro uma sacola com alguns exemplares da história universal e um Atlas de 1904, que eu conservo comigo, onde ele,para além de outras anotações, regista inclusivamente a passagem do cometa Halley, referindo a sua órbita e a periodicidade da visita. Por isso não é de admirar que tenha feito a inscrição e se tenha apercebido que o menir não pertencia ali. Aliás, conservo comigo inúmeras pedras (de xisto) do Moinho de Miguens inscritas por ele, desde datas de nascimento dos filhos e netos a simples assinaturas e até desenhos.Talvez conhecesse as gravuras rupestres que vieram posteriormente a ser identificadas, quem sabe. Vou consultar e pesquisar os milhares de papéis e fragmentos de jornal onde o meu bisavô anotava tudo e mais alguma coisa para verificar se ele refere menires ou antas ou gravuras. "

É curioso, a propósito, recordar que boa parte das gravuras rupestres estão, efectivamente, nas proximidades de moinhos e que existem mesmo algumas que são certamente de épocas históricas, muito provavelmente executadas pelos moleiros.
Dentro dessa categoria (recordo-me, no Alqueva, de alguns motivos junto ao Moinho da Abóbada e de outro próximo da aldeia da Granja, no Alcarrache) os temas são sobretudo cruciformes, mas também círculos e outros, executados pela técnica do picotado, com dimensões e implantações muito semelhantes às verdadeiras gravuras neolíticas. Ainda este Verão, em Mora, identificámos um desses casos junto ao Moinho do Vinagre, a jusante de Mora.

Seria muito interessante confirmar se o Sr. Paulino teria, efectivamente, conhecimento das gravuras e que ideia teria delas.

Comments

Pedro Alvim said…
Não há coincidências... Há, sim, moleiros avôs, menires, cometas, Atlas de 1904 e netos. :-)
Manuel Calado said…
Pois é. Parece que os menires integram certos patrimónios genéticos. Lembra-me outra coincidência Reguenguense: o José Alberto Gonçalves que reergueu, quase diria que compulsivamente, o menir do Barrocal, é neto, segundo ele conta, do descobridor do recinto do Xarez...
E já agora a coincidência do apelido Gonçalves na história do megalitismo do concelho...

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