Monte Xarez: uma grande urbe da Idade do Bronze

No contexto de trabalhos de prospecção arqueológica para revisão do PDM concelhio, identifiquei, neste fim de semana, os vestígios de um grande povoado com cerca de 3000 anos, sob a vila medieval de Monsaraz.
Um complexo sistema de muralhas, actualmente perceptível nos taludes que envolvem o cabeço, defendia um povoado com uma área que, provisoriamente, calculamos entre 20 e 30 hectares.
Trata-se, certamente, de um dos maiores povoados dessa época, no Sudoeste peninsular.
As muralhas da Idade do Bronze encerravam, efectivamente, uma área que se estendia muito para além dos limites da fortaleza medieval, incluindo os esporões a Norte e a Sul da vila.
Os materiais recolhidos ao longo de toda essa extensão (sobretudo cerâmicas) correspondem, em termos cronologico-culturais ao Bronze final, com uma eventual continuidade residual no início da Idade do Ferro.
Note-se que, nos arredores de Monsaraz, eram já conhecidos, há muito, vários sítios
arqueológicos, integráveis genericamente nessa época, com destaque para o cabeço fronteiro de S. Gens.
Também as gravuras filiformes identificadas, em número crescente, nos arredores de Monsaraz correspondem provavelmente, na sua maioria, a essa época.

Esta descoberta, fundamental para a interpretação da proto-história regional, peca sobretudo, por ser tardia.
Como é possível que, tendo Monsaraz a visibilidade que tem (em vários sentidos), só agora tenha sido descoberta a sua ocupação proto-histórica? Esta é a essência das paisagens invisíveis.
Mas já havia indícios?
Para além dos núcleos de povoamento referidos nos arredores de Monsaraz, conhecidos (mas pouco valorizados) há já alguns anos, foram descobertos e
parcialmente escavados muitos sítios da 1ª Idade do Ferro, junto ao Guadiana e seus afluentes, a montante e a juzante de Monsaraz; de facto, uma tal densidade de sítios compreende-se melhor agora, no contexto de um processo de despovoamento dos castros do Bronze final, cujo representante, na região, era efectivamente Monsaraz.
A identificação de materiais do Bronze final na escavação do parque de estacionamento, na encosta Leste de Monsaraz, veio finalmente despoletar a questão: faltava "apenas" procurar as evidências.
Tal como em Evoramonte, a ocupação medieval e posterior camuflou a ocupação proto-histórica.
A comprovação do povoado antigo fez-se sobretudo nos taludes que rodeiam o cabeço - de facto, na sua maioria, os vestígios das muralhas primitivas - e nas argamassas da muralha medieval, nos pontos em que a degradação das faces da muralha expôs o respectivo miolo.


Limites hipotéticos da muralha proto-histórica








Taludes do sistema de muralhas proto-históricas


As argamassas da muralha medieval, repletas de cerâmicas da Idade do Bronze







Materiais proto-históricos observados na área


Fragmento de dormente de mó manual de vaivém, em granito, reutilizada
na construção da muralha medieval

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